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segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Saudade é o Amor de Quem Fica





Esperei este dia para falar, sujar as mãos de terra e sentir saudades.

As nuvens estão vivas no céu, leves o bastante para correr como um véu que o vento leva sem uma direção definida.

Desejo gritar que nada amo, todavia não explico o rosto molhado para o meu coração selvagem e imaturo.

Que sono é esse que não posso acordar?

Rasgamos o silencio ao meio com profundos suspiros em uma casa que não me pertence. Quando sem energia fui rendido novamente ao silencio, suplicando a atenção imediata.

As roupas estão sujas e o corpo exausto, porém continuo voraz contra o vento sem possuir o motivo que justifica desproporcional atitude.


Agradecido por um dia de sol para sentir saudade, recusando-me ao aguardo de um período de chuva que remeta ao estado de reflexão. 

segunda-feira, 24 de julho de 2017

Música Para Lobos







A chuva redesenha e modela a areia segundo sua vontade, o dia cinza presenteia a cidade de sol e não entrega sinais de partir.

Os sentidos agora podem matar e as escadas para o paraíso foram recolhidas, as palavras sem filtro são lançadas aos miseráveis ouvidos do mundo sem qualquer sofisticação.

Despertar outra manhã e confrontar a contagem progressiva para morrer, transcender as infinitas dores espalhadas por todo o corpo, revezando em um ritual a tortura orquestrada por um inimigo imaginário.

Baby, você quebrou meu coração e não tenho a coragem de assumir, mesmo desorientado como um menino, certamente lhe odeio profundamente por isso. Está em hora vomitar o meu terror após religiosa bondade e compreensão por tanto tempo enquanto o peito explode nas próximas horas.

Coloque seus óculos escuros e assista estas chamas consumir toda a cidade, aprecie o último drink antes que o gelo derreta no calor e não diga o meu nome quando a luz apagar.


sábado, 24 de junho de 2017

Bach- Cello Suite No. 5 Prelude






Escadas longas e estreitas, paredes escuras como a noite e uma luz vermelha que incomoda aos olhos. Um sorriso próximo convida- me para o caos.

Não paguei as entradas, a bebida manteve a mão direita ocupada o tempo todo enquanto as luzes coloridas ofuscava a visão entorpecida, uma dimensão paralela e frenética contagia o corpo cansado de um dia cheio, convencendo a prosseguir.

Gente estranha cruzando em uma vida oposta  e singular, sorrisos vazios, nublados como a noite que corria próxima do fim.

Ouro branco, cigarros baratos e um dólar, o poema genérico reescreve o poeta, alguém que acordou, mas perdeu a hora e ninguém notou ao fim. O próprio pecado travestido de homem, corrompido por uma lama que impregnou os olhos e o cegou.

Cheio de vaidades, a própria liberdade em escolher o caminho de fato o limitou, e agora em um lugar sozinho alguém repousa ao lado distante e anestesiada, confiou- me a própria segurança como quem descobre um fio de fé sobre o mais perverso coração.

Irei a acordar e sair pela porta da frente, esquecer o que aconteceu aqui, pois não lancei promessas e o tempo apressa o passo de quem não coube permanecer em lugar algum.

O dia inicia seu compasso e algum tempo depois já não recordo- me a noite ou os rostos, sorria e seguia o instinto, certo que a melhor opção era continuar assim.








sábado, 17 de junho de 2017

Hollow 27




Entre as paredes do corredor, deparo- me com uma pintura, a reprodução singela de uma tarde que não reconheci.  Entre tantas loucuras, a mais cruel não percebi.

Por essas ruas ouvimos promessas, pouca chuva e alguma dor, descartadas como lixo, por esses dias alguém levou.

Outra esquina aparentemente familiar, denunciando a rotina que escondi para ninguém notar.

Entre a paisagem e um pouco de coragem, algo novo desejou surgir, mas não terminei meu drink, fica para outra hora redescobrir.

Sob um olhar mortal e sério, eu espero tal conflito real, lados opostos em uma guerra, exaustos e rezando para o mesmo Deus.




domingo, 2 de abril de 2017

O Amor e a Roda Gigante






Qual seria o perigo? Seus olhos não me abandonaram o dia inteiro e estar em seu quarto é em parte confiança, não foi nada sobre certo ou errado, a primavera passou rápido e escondemos o nosso tempo para nós.

Por uma questão legal ela deveria partir, a vida não era apenas sobre nós, por mais que rejeitássemos a realidade, o confronto em algum momento não seria leal ao fim.

A ausência em palavras não é semelhante ao peso de vive- La, o trem continua guiando seus passageiros ao destino, sinto fome, peço um drink e entre o meio tempo de cada tarefa ela aparece em algum lugar em meu dia. Ao início ainda encontro o seu perfume entre um objeto da casa, escondido em uma roupa e quando descoberto leva- me ao encontro diante de nossos desencontros.

O reencontro inicialmente era questão de tempo, mas o tempo entre ele foi imprevisível.  Lidar com a distancia é uma crueldade sem fim, são duas forças opostas conflitando dia após dia até que uma reina sobre a realidade e esse foi o nosso lento e tortuoso fim.

Era uma noite comum, saia do trabalho e distraia- me em um Pub próximo de casa, mas algo mudou minha rotinha, foi como um click em um espaço de um pensamento aleatório, como uma fúria veio todo o sentimento por ela sem meu consentimento e morrendo de uma saudade avassaladora  entrei em contato.

Depois de muito tempo, lá estávamos nós, cumprindo as nossas vontades, matando cada desejo apertado em seu coração, suprindo os medos e angustias calados por uma distancia irreal e profunda que herdamos da vida, prontos ao recomeço de sonhos e planos. Tudo parecia bem, o relógio de nossas vidas voltou a funcionar, porém algo interrompeu a alegria em igual proporção. Aconteceu algo enquanto estava longe?

Algo morreu no quarto, os dias seguintes não contaram com a minha presença, o amor estava ali domado por um decepção talvez injustificada, foi incontrolável, não foi possível disfarçar e retornamos para nossas rotinas e vidas diferentes em um acordo de paz.

Seguimos em frente, alguns anos se passaram e outra história iniciou em seu lugar, era o correto e ninguém questionou, tudo caminhava bem e entreva nos eixos como resultado de nossas escolhas, porém uma ligação inesperada calou- me por horas, era ela colocando tudo que eu senti no passado como um flash, convencendo- me que algo muito maior ainda viria ao nosso encontro, estávamos ligados ao laço do destino e compreendemos que não era possível nega- lo. O que vivemos em curtos espaços de tempo realmente foi incomum e surpreendente e desde o fim nada foi semelhante, foi tudo que alguém poderia desejar de fato viver.

Por uma segunda vez, abandonei tudo onde vivia para reencontra- la e de fato viver o que decidimos ser o nosso futuro, construir o maior e os melhores anos de nossas vidas, estava na mesa e era a hora de vive- los como nunca, e esse sim foi o maior erro de todos...

O caminho até ela inundou os pensamentos, por cada quilometro percorrido aguardei viver o sentimento antes indescritível, desenhei sonhos em papel e determinei todos os passos para os próximos 50 anos de vida. Caminhei até a saída do aeroporto, preparado para recebe- la em meus braços e morar em seu coração onde jamais deveria antes fugir, porém minha surpresa foi assustadora.


São os mesmo olhos, a mesma boca inquestionável, sim, era ela de fato, mas quem eu estava esperando? Um véu constrangedor abraçava- nos neste instante, a reação de ambos foi parar e tomar um café em busca de segurança e assim iniciamos um diálogo frio e questionador. O tempo passa e a vida molda individualmente cada pessoa, o que vivemos foi lindo e qualquer outro homem cometeria esse mesmo erro para vive- lo novamente, todavia não contamos que o mesmo tempo que guardou nossa história seria o carrasco de uma realidade diferente a qual idealizamos. Em algum lugar do tempo ainda estamos juntos, entretanto hoje somos estranhos com uma história para contar, o tempo mudou ambos, os planos e sonhos esquecemos em algum lugar, o pensamento diverge e compreendemos sim, somos nós, contudo não é onde desejamos estar.

segunda-feira, 20 de março de 2017

The Heartless




A sombra antes curvada em reverência, hoje aponta a lança em sua direção.
Os ídolos queimam no quintal em uma fogueira improvisada, sob o chão de concreto vê sua ultima luz.

O dia está escuro, por vezes parei de respirar, a lança agora junta- se ao peito, encara o centro do alvo como sua ambição letal.

Ao longe existe uma continuidade, o som dos carros transitando sobre o asfalto orienta os ouvidos, o vento encontra as cortinas da sala oferecendo vida e movimenta as rosas estampadas sobre o tecido, um cão late indiscriminadamente alertando o perigo irreal.


Permita explicar a ausência de amor, rabiscar promessas em madeira e protagonizar o desprezível culto,  entre o altar e a amante toda a insanidade em um pacto decadente e superficial ao ponto de não podemos distinguir o que queima ao fim.

quinta-feira, 2 de março de 2017

Blessed





Rodrigo inicia os preparativos necessários ao seu barco, cumprimentado o mar e reverenciando a poesia em azul que o mesmo projeta em sua superfície, agradecendo ao sol que pontualmente desfigura o breu e os perigos escondidos em trevas cuja a luz artificial é incapaz de revelar.

Reconhece a saudade em passos solitários de alguém que segue caminhando sobre a areia da praia, desconstruindo a obrar do mar com seus passos livres.

O coração legitima  as histórias que seus lábios retratam com riqueza de detalhes,  reflete o homem que conheceu o mundo de Reis e não pereceu diante destes.

Rodrigo reconhece a vaidade em seu peito, profundo como o mar que navega, rejeita as armadilhas de uma solidão desonesta que propõe o despertar de outra saudade.

Em condição frágil e rodeado de perigos, Rodrigo descansa sobre o manto de seu protetor pois compreende o amor em todas as suas formas, ocasionando o efeito que transcende  os ponteiros do relógio, ligando espiritualmente a criatura ao seu criador.


O vento alerta as mudanças do tempo, encontra as águas e dita a trajetória segundo sua vontade. Rodrigo encontra o seu limite e finaliza os seus trabalhos oferecendo gratidão ao seu sucesso. 

Retorna ao lar com uma nova experiência, semelhante ao mar, pois é certo que amanhã será o mesmo oceano esperando o pescador, todavia nunca as mesmas águas.

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Diário de Bordo





As orações encontram o coração, ganhando o dia quente e os ouvidos de Deus, iniciando a breve harmonia sobre outro coração perverso.

O radio do carro toca uma canção sobre saudade, cria sua atmosfera corrompendo os ouvidos com sentimentos que não habitam a alma, sentimentos que outrora não couberam na bagagem e ficaram para trás, provocando o efeito onde o pintor em seu vasto catálogo de inspirações, por ocasião nada o remete a pintar.

Em uma estrada já distante de qualquer segurança, logo vem outro coração partido em um sentido oposto, tratando o amor com religioso desprezo, desafiando a aderência do asfalto, cruzando o mundo como o culpado foge evitando a sua pena.

A tempestade vem adiante acuar a brincadeira das crianças em uma cidade onde repousarei, nuvens negras intimida e cerca a região,  causa o espanto entre os habitantes que indagam tamanha fúria da natureza. O panorama apocalíptico entrega a plena sensação de reproduzir em estado físico o que a alma esconde em sua mais profunda existência e incontrolavelmente faz- me sorrir diante de sua espantosa arte.