Qual seria o perigo? Seus olhos não me abandonaram o dia
inteiro e estar em seu quarto é em parte confiança, não foi nada sobre certo ou
errado, a primavera passou rápido e escondemos o nosso tempo para nós.
Por uma questão legal ela deveria partir, a vida não era
apenas sobre nós, por mais que rejeitássemos a realidade, o confronto em algum
momento não seria leal ao fim.
A ausência em palavras não é semelhante ao peso de vive- La,
o trem continua guiando seus passageiros ao destino, sinto fome, peço um drink
e entre o meio tempo de cada tarefa ela aparece em algum lugar em meu dia. Ao início
ainda encontro o seu perfume entre um objeto da casa, escondido em uma roupa e
quando descoberto leva- me ao encontro diante de nossos desencontros.
O reencontro inicialmente era questão de tempo, mas o tempo
entre ele foi imprevisível. Lidar com a
distancia é uma crueldade sem fim, são duas forças opostas conflitando dia após
dia até que uma reina sobre a realidade e esse foi o nosso lento e tortuoso
fim.
Era uma noite comum, saia do trabalho e distraia- me em um
Pub próximo de casa, mas algo mudou minha rotinha, foi como um click em um
espaço de um pensamento aleatório, como uma fúria veio todo o sentimento por
ela sem meu consentimento e morrendo de uma saudade avassaladora entrei em contato.
Depois de muito tempo, lá estávamos nós, cumprindo as nossas
vontades, matando cada desejo apertado em seu coração, suprindo os medos e
angustias calados por uma distancia irreal e profunda que herdamos da vida,
prontos ao recomeço de sonhos e planos. Tudo parecia bem, o relógio de nossas
vidas voltou a funcionar, porém algo interrompeu a alegria em igual proporção.
Aconteceu algo enquanto estava longe?
Algo morreu no quarto, os dias seguintes não contaram com a
minha presença, o amor estava ali domado por um decepção talvez injustificada,
foi incontrolável, não foi possível disfarçar e retornamos para nossas rotinas
e vidas diferentes em um acordo de paz.
Seguimos em frente, alguns anos se passaram e outra história
iniciou em seu lugar, era o correto e ninguém questionou, tudo caminhava bem e
entreva nos eixos como resultado de nossas escolhas, porém uma ligação
inesperada calou- me por horas, era ela colocando tudo que eu senti no passado
como um flash, convencendo- me que algo muito maior ainda viria ao nosso
encontro, estávamos ligados ao laço do destino e compreendemos que não era
possível nega- lo. O que vivemos em curtos espaços de tempo realmente foi
incomum e surpreendente e desde o fim nada foi semelhante, foi tudo que alguém
poderia desejar de fato viver.
Por uma segunda vez, abandonei tudo onde vivia para
reencontra- la e de fato viver o que decidimos ser o nosso futuro, construir o
maior e os melhores anos de nossas vidas, estava na mesa e era a hora de vive-
los como nunca, e esse sim foi o maior erro de todos...
O caminho até ela inundou os pensamentos, por cada
quilometro percorrido aguardei viver o sentimento antes indescritível, desenhei
sonhos em papel e determinei todos os passos para os próximos 50 anos de vida.
Caminhei até a saída do aeroporto, preparado para recebe- la em meus braços e
morar em seu coração onde jamais deveria antes fugir, porém minha surpresa foi
assustadora.
São os mesmo olhos, a mesma boca inquestionável, sim, era
ela de fato, mas quem eu estava esperando? Um véu constrangedor abraçava- nos
neste instante, a reação de ambos foi parar e tomar um café em busca de
segurança e assim iniciamos um diálogo frio e questionador. O tempo passa e a
vida molda individualmente cada pessoa, o que vivemos foi lindo e qualquer
outro homem cometeria esse mesmo erro para vive- lo novamente, todavia não
contamos que o mesmo tempo que guardou nossa história seria o carrasco de uma
realidade diferente a qual idealizamos. Em algum lugar do tempo ainda estamos
juntos, entretanto hoje somos estranhos com uma história para contar, o tempo
mudou ambos, os planos e sonhos esquecemos em algum lugar, o pensamento diverge
e compreendemos sim, somos nós, contudo não é onde desejamos estar.