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quarta-feira, 18 de maio de 2016

Chuva no Ocidente





Ameacei chover, desejei voltar para as águas do sertão que tanto amei. Pensar que fui água que matou sua necessidade, pensar que fui a quantidade que lhe afogou.

Especula minha partida, espera por outra estação, quando de fato faço- me em pedaços aos poucos como chuva em um fim de tarde anunciando o  verão.

Afano suas palavras ao me notar como oceano, acompanho seu barco ao ocidente de seus sonhos. Em parte fui lágrima que desprendeu de seus olhos, outrora fui onda que absorveu.


Trago vida em minha existência, lavo outra vez seus olhos irrigados de decepção, sou o som que em seu telhado faz a música que conforta em uma noite chuvosa, mas morre de amores por um sol que tão pouco fez por ti

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Lia




O vento envolve seu corpo, intensifica seu perfume por toda a casa, contempla a tua vida por todos os cômodos como um plano de Deus, alia- se ao sol que te aquece como uma flor em um jardim, permite que teu sorriso multiplique e transborde entre tantos outros sorrisos,  reescreve seus olhos e  boca de maneira que o tempo não seja capaz de desfazer, contorna sua face com cores que me colocam sob a incapacidade de descrição, hipnotizam meus olhos como um sonhador diante de seu sonho.

Os cabelos cacheados e multicor mantém minha atenção em condicional, vivos e extensos, modelados com os movimentos do seu corpo, exalando por onde passar um perfume único, doce como nunca antes notado em qualquer outro jardim que passei.

A pele espalha os teus registros, os sinais pontualmente escolhidos por Deus, desenhos que fazem de você arte viva, porções exatas de células que unidas lhe fazem unicamente a melhor parte sobre tudo que existe e vive.

Tua voz repercute aos ouvidos, o som ecoa sobre as paredes e encontra- me ao fim, arrepia o corpo entorpecido, causa desordem sobre o real e espiritual.

Quando se vai, leva metade, reparte outro pedaço meu, jamais por malevolência, distante é você de qualquer maldade.  Parte que leva é amor e ainda não sabe.

sábado, 14 de maio de 2016

Meia Luz





Perdi a hora e os sapatos procurando as chaves e os cigarros, entre tanta lucidez, mal fui capaz de explicar como cheguei aqui.

Enterrei um parente e um cachorro enquanto velava uma história de amor que de fato nunca amei. 

São meia dúzia de portas abertas e dentes brancos sorrindo sob uma valsa estrangeira que por outro lado faz sorrir.

Recuso algo para beber e fumo minhas besteiras suplicando redenção por cada absurda conclusão que chego, rezando baixinho para que desta vez eu esteja errado sobre cada uma.


O dia corta o breu da noite, o café suspende o efeito do álcool, a dor repele os artifícios sobre o amor. Amor é papo para outro cigarro, uma dose para um coração no sense em outro peito, em outra vida

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Cigarros e Alice



Encontrei- me obrigada a costurar os retalhos até o fim da noite pois estava certa que esta curva seria onde tua boca encontraria a minha.

Traguei teu rosto com os olhos e não percebi a chuva que escorria sobre a janela do bar. Escapou o momento que você deveria abraçar- me apaixonadamente, ignorando a mesa de carvalho, os copos vazios e estáticos no redondo objeto de madeira respeitando a gravidade sobre eles estabelecida.

Quantos poetas seriam necessários para descrever tua saudade? Saudade essa que nega enquanto engole indiscriminadamente outro drink e repousa teus braços novamente sobre a mesa. Saudades que mesmo ausente de visão encontraria no céu de sua boca ou até mesmo abraçaria ao som de sua voz.

Contraindo cada músculo do corpo, escutando atentamente e sem duvida alguma o quanto não serei importante em sua vida pois passaram- se horas e estou exatamente em direção aos seus olhos e você discursa inflamadamente sobre como não ama o amor, atirando uma aleatória e conflitante mistura de sentimentos que definitivamente não é capaz de lidar, uma saudade em um peito magoado travestida de indiferença.

Pago a conta e ensaio abandona- lo na mesa. Seus olhos grandes indagam meus movimentos, todavia antes que o pobre rapaz pudesse interferir em minhas ações, digo:

  - Saudade não mata, saudade não morre, saudade tem seu lugar no peito e respeito isso, porém tua saudade sentou hoje para acompanhar- me, brindou a liberdade que não desejou, abraçou e sufocou qualquer outra nova oportunidade de contraria- lo, Tornou a mesa o centro de sua tempestade e o mundo ao redor a catástrofe em curso de sua revolta, traduzindo quem lhe ouvia como vítima de sua dor e isso foi desleal por fim.