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segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Amante






O vento empurra a porta, bate com tanta frequência que parece copiar as batidas de meu coração. 
Enquanto procuro nas linhas de estrelas do céu um caminho a seguir, o vento traz as breves cinzas do passado tão presente. 

Ainda encontro a paz nos seus braços. 

Posso ver no seu olhar a sintonia entre o céu e a Terra. 

Sinto... Mesmo que distante de mim o amor que Deus criou em seu estado puro. O mesmo amor que desenhou os traços do seu rosto, as linhas da nuca que escorrega em um alinhamento suave e que lhe envolvem em uma luz além da minha compreensão. 

O amor não é substituível, não se troca, escolhe ou devolve ao fabricante. Ele nasce em um dia qualquer, cresce a cada minuto e quando você notar... Já não saberá o que é você e o que é o amor

sábado, 21 de dezembro de 2013

Saudade







Perco-me nesse sentimento mórbido que não me larga jamais.

A saudade te acompanha nos passos largos na rua, na música escrita por outro devoto deste sentimento, sobre as cores do dia, em esquinas onde o que vivemos tornou- se apenas ela... Saudade.

Saudade não se merece, não se ganha no amigo secreto da empresa, não a encontramos em templos budistas ou pirâmides do Egito. Ela sempre chegará quando a felicidade partir.

A saudade antecede o sorriso, lágrima, sempre acompanhada de sua fiel amante, a lembrança.

Doce saudade que de longe é o início e o fim de cada dia, iniciando depois que tudo acabou, mas sempre presente em qualquer momento que viver.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Falando Sozinho






A garrafa de vinho foi devorada, os pensamentos expandidos tomam formas confiantes, determinadas, digna de um notável líder.

A garoa escondida na escuridão se revela sobre a luz do poste de eletricidade, o cheiro da noite causa nostalgia de alguns momentos fantásticos vividos.

O som toca Cazuza em volume reduzido, a melodia faz meu coração funcionar lentamente, copiando o tic-tac do relógio de parede, os pulmões buscam o ar.

Jamais aceitei como justiça as atitudes que tornaram aquela menina em uma senhora, creio que tudo que é construído sem base na areia, em algum momento tende a desabar, porém ele tinha pouco amor e um bom dinheiro, hoje a garantia de um teto é mais vantajosa que lutar com as próprias mãos para merece- ló.

O turbilhão de pensamentos livres é constante, a TV exibe um filme ruim e não aceitei o convite das belas curvas de uma mulher durante a tarde.

Estou procurando controlar essa tendência destrutiva que possuímos e reflete sempre em quem amamos, é algo que surge do profundo egoísmo em não analisar as consequências de palavras lançadas ou gestos, é perigosa tal reação, basta uma expressão e alguém se torna prisioneiro em um limbo eterno de uma simples vaidade sua.

Sim... Ela disse que me amava, mas aprendi a conviver com isso depois de tanto tempo, você cresce enquanto passa por essas dificuldades, no fim recebi o papel de vilão, pois foi o que sobrou.

No fim, esses são bons tempos... e o prazer está escondido no final de cada curva.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

O Conto de Elizabeth






Elizabeth era uma jovem mulher encantadora, morava em uma pequena cidade com pouco mais de 10 mil habitantes, seus feitos percorriam como o vento entre os moradores do local, dona de uma personalidade hostil.
A moça possuía olhos castanhos, os cabelos enrolados e negros passeavam com o vento, o perfume anunciava o rastro de sua temida presença, segundo os próprios moradores, Elizabeth era de uma frieza sobre-humana, não havia amor no coração negro da jovem senhorita, eles relatam as feitorias de Elizabeth na pequena cidade, os muros quebrados ou pichados, proclamações de ódio aos religiosos, agressões físicas a moradores, consumo excessivo de álcool, drogas, atentado ao pudor dentre outras agressões aos bons costumes dos pacatos cidadãos.
Elizabeth foi abandonada por seus pais aos 14 anos, viveu com o tio Mike, um alcoólatra que a agredia constantemente até os seus 18 anos quando Elizabeth foi morar com um rapaz, mas o romance não durou dois meses e logo a jovem saiu de casa e aderiu ao estilo ímpar de viver.
A moça tinha um histórico gigante de passagens na polícia local, incomum era o dia em que sua cama não era a da pequena cela do delegado Oswaldo, Elizabeth era suspeita de um acidente de carro criminoso em que cinco pessoas morreram, mas não havia provas para condena- La diante de um juiz e por consequência o caso foi arquivado. Suas incontáveis detenções geravam transtornos aos moradores que temiam por suas vidas com os relatos de tentativa de homicídio onde Elizabeth era apontada como agente ativo das acusações, porém a justiça dos homens emperrava qualquer tentativa de colocar Elizabeth atrás das grades.
Tudo corria como de costume sobre os olhos da garota, porém seu mundo mudaria daquele dia em diante, o ônibus que passava uma vez por dia na cidade trouxe de longe um jovem viajante um tanto quanto curioso. O Rapaz tinha cabelos cacheados e castanhos, a profundidade de seu olhar distante contrastava sua indiferença para com os habitantes, vestido com um Jens rasgado e um tênis velho dirigiu- se para o bar mais próximo da parada e lá pediu uma dose, Elizabeth ofendida por ser o centro das atenções, adentrou ao bar e encarou o rapaz que desprezou a atitude e logo saiu do estabelecimento.
Com a chegada da noite, a moça mastiga lentamente a cena do bar e as atitudes do viajante, nascia ali à primeira paixão verdadeira de Elizabeth.
O sol se apresentou pela manhã e prometia um belo dia quente de verão do interior, a jovem moça partiu para rua sem destino certo, ao atravessar a avenida principal, notou que o viajante encontrava- se no mesmo bar da parada de ônibus, ela foi ao seu encontro. O rapaz jogava bilhar com outro desconhecido quando Elizabeth pegou a mão do jovem e o puxou para fora do local, ela percorreu 10 minutos carregando o rapaz até uma praça pouco utilizada pelos moradores e o viajante sem questionar permitiu ser conduzido. Ao chegar Elizabeth interroga o jovem sobre tudo e ele responde a cada pergunta curiosa da garota, James era o nome do rapaz e ele chegava de uma cidade do interior paranaense, sua vida era transitar de uma cidade para outra sem determinar o tempo de sua estadia, Elizabeth confirmou o que seu coração já havia decretado.
O tempo modelou aquele amor como os ventos desenham a areia das dunas e em menos de um mês eram dois jovens amantes incontestáveis, Elizabeth e James se tornaram um lindo casal e o amor construiu a paz que faltava aos seus corações, eles de alguma maneira se completavam e lapidavam uma nova história, sem prisões ou drogas, era Elizabeth, James e o amor entre eles. James trabalhava como mecânico em uma oficina e Elizabeth em uma lanchonete serviam os turistas e moradores da cidade com um belo sorriso no rosto. Alguns anos se passaram e a vida dos jovens aparentava tomar um rumo diferente da destruição que se encaminhava a passos largos, o fruto de tanta dedicação entre eles resultaram em uma filha, Larissa nasceu saudável e forte como a mãe.
Elizabeth se mostrava grata à vida por tudo que possuía, porém sabia que existiria um preço a ser cobrado de um passado que assombrava seus pesadelos mais profundos e depois de tanto tempo tentaria alcança- La mais cedo ou mais tarde e assim foi...
Em mais um dia de trabalho na lanchonete, tudo corria naturalmente bem, porém durante a tarde surgira dois assaltantes, eles só desejavam o dinheiro e pediram para que Elizabeth o colocasse em um saco de lixo preto, a moça nervosa e vigiada constantemente fez um movimento brusco e derrubou um pote de vidro, os assaltantes assustados, dispararam dois tiros em sua direção, os projeteis acertaram a cabeça e a coluna de Elizabeth que foi socorrida imediatamente, seu quadro era grave, mas ela estava viva. O assalto comoveu a pequena cidade com o seu desfecho trágico, os ladrões desapareceram, James passava horas ao lado da amada em prantos, sua filha crescia e ele a protegia da verdade triste, os médico determinaram a morte cerebral de Elizabeth pouco tempo depois.
Nos dias que se seguiram longos, James tentava criar a filha sozinha, trabalhava o bastante para viver com tempo para ela e sua dor, até que sem autorizar que os médicos desligassem os aparelhos, James partiu da cidade com sua filha para sua terra natal.
Elizabeth, tomada por uma infecção incontrolável de ferimentos causados por escaras de pressão, morreu dois anos depois no hospital.
James e sua filha já crescida compareceram ao velório organizado por parentes desconhecidos da moça, o rapaz chorava e lamentava o destino de sua amada e assim foi até o fim do evento fúnebre.
Os anos passaram como as águas de um rio, Elizabeth se tornou um conto triste na boca dos habitantes da pequena cidade, eles relatam escutar a voz de Elizabeth na casa onde morava com James, procurando por seus amores, misteriosamente a porta da casa que foi abandonada bate sempre as 18:00 horas, horário em que Elizabeth costumava chegar após o trabalho, testemunhas afirmam escutar lamentos durante a madrugada, assim a história da jovem rebelde Elizabeth correu os anos e foi moldada conforme a vontade daqueles que a contavam até cair no esquecimento das gerações que seguiam as décadas.



Carta Aberta





O seu perfume surgiu no ar pela manhã, memórias vagas e fragmentadas pelo tempo se embrenharam entre uma tragada e outra, a luz incomodava os olhos cansados de uma noite sem sono, um casamento poético distante de um final feliz.
O tempo vai desvendando o véu de questões mal resolvidas, apagando alguns trechos rasurados de nossa história, refazendo de maneira egoísta suas conclusões, retira o amor, saudade, esperança e adiciona a indiferença.
As notícias insistem em chegar, mesmo que eu não ás procure, vem torturar as esperanças ainda profundas que não possuo o controle, digna de cenas em filmes de ação onde o coadjuvante morre com um tiro no peito e sorrindo finaliza sua participação com uma frase simples de motivação na qual o mocinho protagonista irá encontrar forças e terminar a trama.
A vida tem cuidado de mim às vezes, falo pouco, não declaro guerras aos lobos com frequência, escolho com cuidado minhas palavras, estou longe, mas olhando panoramicamente a situação e movimento as peças quando necessário.
Andei fingindo que havia te esquecido, nossas lembranças estavam se tornando excelentes comparados aos conselhos não solicitados, essa ideia tola de supor que alguém necessita de palavras confortantes não passa pela garganta, vem sempre acompanhada de uma sintonia fina de pena sobre o tom de voz, são arrogantes e precipitadas na maioria das vezes.
Hoje, aquelas faces que jogaram pedras, seguem o mesmo caminho que trilhamos, interessante como o mundo dá voltas, recordo- me das palavras que eram disparadas a queima roupa no passado e hoje escorridas no ralo do chuveiro da casa dos mesmos homens hipócritas, adotaram a mesma postura no final.

Esse ano foi extremamente revelador, repleto de traições e perdas, todavia foi um grande tempo de aprendizado no escuro, logo o sol nascerá e preencherá por completo, as sombras não continuaram caminhando ao seu lado e assim seguiremos...

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Ela Partiu





Antes de partir, Amanda deixou uma carta ao seu Marido:

Escrevo esta carta para você meu amor, creio que hoje será um dia cheio de lembranças contigo que embora sejam momentos de felicidade, o sorriso acompanhará as lágrimas.
Não perdi a luta, a verdade é que nunca lutei contra o cancer, a vida já havia decidido que ele me levaria, era a vontade dela e a de Deus, minha luta foi para te ver sorrir comigo diante deste turbilhão.

Eu venci a minha batalha, te amei até meus últimos segundos e não importava quantas doses de medicamentos ou sessões de quimioterapia fossem necessárias, eu estaria em seus braços no fim da tarde em dias chuvosos ou finais de tardes cinematográficos.

Quando meu cabelo começou a cair, voce comprou uma réplica de cabelo do David Bowie, o nosso cover de "Soul Love" causava panico nas enfermeiras, estamos famosos devido as turnês entre o hall e o refeitório.
Adorava os momentos em que era sequestrada do meu quarto, ainda tinha energia, brincávamos pelo corredor do Hospital, quando eramos descoberto... As broncas do diretor da Ala médica se tornava monólogos eternos em nossos ouvidos.

Com o tempo fiquei debilitada devido as consequências da doença e a quimioterapia, mas você nunca nos permitiu ficar tristes, jamais.

Você encheu a sala de flores quando desejei visitar o jardim, trouxe os palhaços quando minha vontade de sair correndo para o circo que anunciava na rua a sua chegada, comprou suco de uva quando pedi vinho... Como eu te amei meu amor.

O Natal chegou e você foi meu papai noel, chegou com aquela roupa vermelha e a barba branca contrastando com a sala de internação, meu presente foi essa cena inesquecível, trocamos sorrisos e paramos o tempo aquela noite.

Um novo ano chegara e você trouxe um espumante escondido em um carrinho de refeições do Hospital.

Hoje você está lendo essa carta, o que significa que não cheguei ao carnaval, mas tudo bem, eu fui feliz por uma vida.

As coisas vão mudar, a vida lhe trará uma boa mulher, lindos filhos e eu irei sempre estar em um cantinho pequeno do seu coração para quando você desejar lembrar de mim.


Obrigado por ser o sol que insistiu em brilhar entre tantas nuvens em meus dias nublados

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Apartamento 74





Roberto Roma era um estudante de medicina, 23 anos, morava em uma república com mais 3 estudantes de engenharia. Durante o dia, Roberto trabalhava em uma lanchonete para pagar parte dos custos de uma vida universitária e durante a noite frequentava as aulas.
Roberto escondia uma história de amor trágica em sua vida, aos 20 anos estava prestes a se casar, era questão de dias até consumar os votos, no entanto algo terrível aconteceu com sua noiva, à moça jovem sofria de uma doença na qual os médicos não puderam detectar e em pouco tempo ela veio a falecer, um dia antes do casamento. Desde então Roberto se dedica em seus estudos para se tornar um profissional da medicina.
Tarde da noite, poucas pessoas caminhavam pela rua e Roberto concluía seu trajeto até o Condomínio onde morava, o edifício era antigo, porém desde que a universidade chegou para a cidade, os futuros alunos procuravam se abrigar em repúblicas criadas por imobiliárias, o Edifício Sinatra era o que Roberto poderia pagar até então. Roberto abriu o portão e cumprimentou o vigia da noite e rapidamente seguiu para o hall dos elevadores, distraído pelo desgaste de um dia duro de trabalho e estudos, apenas escutou uma voz alta pedindo para segurar o elevador, mas Roberto não atingiu o feito.
Durante a amanhã começaria toda a rotina novamente, Roberto saía do apartamento onde morava para o seu trabalho, esperando o elevador chegar, notou um som de passos descendo as escadas, ele achou estranho para um condomínio onde a maioria das pessoas eram senhores de idade que geralmente nunca usaria escadas em apartamentos acima do 7 andar, logo o dono dos passos havia se aproximando pelo som que aumentará,  porém o elevador chegou antes e Roberto espantou sua curiosidade e adentrou ao equipamento, foi quando a voz da noite passada voltou a pedir para segurar o elevador. Roberto foi feliz na tentativa e o equipamento parou, logo entra o dono dos passos nas escadas, era uma moça, aparentavam possuir seus 20 anos, cabelos escuros, negros como a noite, dona de olhos profundamente claros, não foi possível desvendar a cor exata, aqueles olhos podiam ver a alma de Roberto que não disfarçou a surpresa e fixou seus olhos aos dela, a jovem moça era um presente de Deus aos olhos de um homem, as linhas do rosto desenhadas a lápis por um artista em sua plena inspiração, o corpo de mulher se confunde em seu jeito de menina, um turbilhão invade o corpo de Roberto quando a hipnose foi quebrada pela jovem dizendo:
-Bom dia!
Roberto se sentindo um babaca devido a cena, respondeu timidamente:
-Bom dia!
O elevador começa a descer os andares e a linda moça encostada em um das laterais do equipamento, não parava de olhar para Roberto, parecia retribuir sua primeira atenção, logo o elevador chegou e a moça saiu aos risos, Roberto esperou alguns segundos e saiu em seguida, ainda mais crítico sobre o seu comportamento.
O dia quente de uma sexta feira havia terminado, Roberto seguiu sua rotina e voltava do trabalho durante a noite, chegando ao condomínio esperava encontrar a linda jovem, porém isso não aconteceu.
Roberto passaria o fim de semana em sua cidade natal, no interior do estado, logo quando adentrou ao apartamento, organizou seus pertences em uma mochila e pela manhã partiria.
Um dia de sábado chuvoso nasce na cidade, eram 6:30 da manhã, Roberto trancou o apartamento e seguiu até o elevador que aguardava no andar, ele estranhou o fato e quando abriu a porta, deu de cara com a linda jovem olhando para ele, Roberto quase sem ação sussurrou um bom dia tímido, ela seguido de um sorriso respondeu o mesmo. Roberto estava inexplicavelmente feliz em vê- La, mas antes que pudesse ensaiar algo para falar sem disparar algo estúpido, o elevador havia chegado ao térreo e a moça saiu para o hall, ele se sentindo frustrado seguiu distraído até que esbarrou na moça que esperava a chuva parar.
A jovem diz:
- Você é sempre distraído assim?
Roberto tomado pela emoção responde:
- Só quando tomo os meus remédios.
E os dois se combinam em risadas imediatas.
Roberto pede desculpas e pergunta o nome da Jovem, ela responde com sua voz doce:
- Helena...
Roberto se apresenta e inicia um diálogo natural sobre o tempo, Helena fala e demonstra desinteresse sobre o evento que teria sua presença e pergunta para onde ele iria tão cedo, Roberto explica sobre sua viagem até sua cidade natal, Helena escuta com tanto interesse as palavras que saem quase escondidas da boca de Roberto e subitamente o interrompe:
- Vai encarar essa chuva?
Roberto tomado por um tom comediante responde:
-Creio que nem o Aquaman entraria nessa onda.
Os dois caem em uma risada íntima e Helena joga as cartas:
- Eu aluguei alguns filmes, já que você não vai encarar essa chuva, vamos para minha casa assistir algo? Não vai adiantar nada você ficar plantado aqui.
Roberto não ousou estranhar ou recusar o convite e os dois seguiram até o apartamento da moça.
Roberto assiste a chave de Helena girar na porta e observa o número 74 do apartamento, a porta abre e Helena entra puxando ele pelo braço e pedindo para sentar no sofá, ela pega os filmes e pede para ele escolher enquanto a moça faz algo na cozinha para os dois. Ele olhava para os móveis antigos e questionava o gosto de Helena, os equipamentos modernos contrastavam com coisas de quase dois séculos atrás, mas Helena chega e distraí Roberto como sempre. O tempo passou e o filme havia chegado ao fim, Helena não falou nada no decorrer do Best Seller, alguns sorrisos que acompanharam cenas hilárias, porem o silêncio foi tatuado em muitos minutos, Helena havia pegado no sono, o rapaz pegou a mochila e foi para seu apartamento.
Roberto ficou em casa, a noite havia chegado e não compensaria viajar no domingo devido à distância, ele não acreditou no que viveu hoje, Helena era simplesmente um espetáculo de beleza e um cara como ele jamais iria viver algo assim.
Era tarde da noite, Roberto estava sozinho no apartamento, seus companheiros de república foram passar o final de semana na casa de seus parentes próximos, o silêncio do local quase morto acentuava os sentidos, ele resolve abrir uma garrafa de vinho tinto, coloca a taça sobre a bancada e inicia o ritual solitário, a cada gole do vinho, os inesquecíveis olhos de Helena pairavam sobre a memória de Roberto e assim dormiu no sofá ao lado de meia garrafa de vinho e um único pensamento.
Domingo pela manhã já não chovia mais, um lindo dia de sol nasce na cidade, Roberto acorda ainda tonto, pois não costumava beber, o apartamento estava com as janelas abertas e o aroma da cozinha anunciava a presença dos colegas de quarto, ele estranha o fato, pois era certo de que todos voltariam durante a noite de domingo então foi verificar quem havia chegado em direção a cozinha, Roberto pede desculpas para os rapazes por dormir no sofá, porém ao chegar no comodo, Helena cozinhava e sorria pelo ledo engano do rapaz dizendo:
-Eu sabia que eu era bonitinha, mas me confundir com um homem é novo para mim.
Roberto ainda assustado pergunta como ela entrou no apartamento, Helena explica que a porta havia ficado aberta durante a noite e ela estava preocupada, pois pegou no sono e quando acordou ele não estava mais lá, Roberto não se lembra de ter deixado a porta aberta, mas como ele havia bebido, não era muito seguro confiar em suas lembranças. A moça segue em direção a ele e abraça-o perguntando se havia dormido bem, Roberto surpreso com a ação diz que sim, mas desconfiava das ações da mulher, Helena notando a tensão da situação, se aproximou de Roberto novamente, olhou no fundo dos seus olhos e disse:
-Está tudo bem meu amor...
Inexplicavelmente uma calma toma conta do corpo de rapaz, tudo era novo para ele, Helena era a mulher mais linda do mundo aos olhos de Roberto, se tratava de uma hipnose instantânea, ele dançava na música que Helena desejasse tocar. Os colegas de república de Roberto chegaram mais cedo, cumprimentaram Roberto, mas ele não respondeu, saiu do apartamento e pegou o elevador.
Roberto sentia o perfume de Helena, sentia a pele quente da moça sem ao menos toca- La, ele havia perdido o foco, noção de tempo, Roberto só queria estar mais perto de Helena, possuir seu corpo, consumar os seus desejos, seu amor repentino por aquela mulher.
Roberto sobe com a jovem no elevador até o apartamento dela, Helena pega em sua mão e o leva correndo para a varanda, Helena corria rápido e Roberto apenas se concentrava em segui- La, Helena chama o nome de Roberto e ele olha para frente, Roberto estava rápido, viu Helena se aproximando da sacada com muita velocidade, tentou alça- La antes que ela caísse,parou repentinamente, Roberto tentou frear os passos, mas o corpo não obedeceu, o homem ultrapassou a sacada e caiu do apartamento. No chão, Roberto agonizava ao lado da portaria, o vigia chamava a emergência apavorado, Roberto olhava para o banco do Jardim e Helena estava lá, com um cigarro acesso, pernas cruzadas, assistindo o seu fim.
Roberto nçao resistiu aos ferimentos...
Segundo as investigações da polícia, o apartamento de onde Roberto caiu era o de número 74, estava vazio no momento, depoimentos revelam que a família não o ocupou devido a um crime ocorrido 9 anos atrás com dois ocupantes do local, eles eram Helena Gonzaga Moura e Roberto Gonzaga Sales, ambos eram casados, o arquivo do caso revela um homicídio, Helena Gonzaga jogou seu marido do apartamento, desceu para vê- ló morrer e logo em seguida, já no apartamento disparou contra a própria cabeça, a família da moça disse que os motivos da ocorrência seria uma suposta traição do chefe de família. Helena sofria de depressão e tomava remédios controlados devido ao seu transtorno de humor e sua agressividade.
A locatária do imóvel diz não conseguir alugar o apartamento a muito tempo, inclusive mobilhou para facilitar aos estudantes que chegavam à cidade, mas não ouve êxito, os motivos são desconhecidos.
Relatos dos amigos de Roberto descreveram que antes dos acontecimentos, Roberto parecia estar hipnotizado, ergueu seu braço e foi em direção ao elevador, depois só o encontrou estendido no jardim.


A polícia não encontrou vestígios de um segundo participante na cena do crime e fechou o inquérito do jovem Roberto Roma com a conclusão de suicídio.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Diálogo



Por que demorou tanto para chegar senhor?
Por muito tempo venho aguardando a visita. Acreditei que lhe encontraria no hospital essa semana, perdi até jogo do meu time de futebol, dormi muito, embora a cama de hospital seja horrível.
Posso acender um cigarro? Creio que não faz muita diferença a essa altura.
Você não é muito de conversar certo? Estou surpreso em velo sobre essa forma elegante, deve ser uma amante de Coppola como eu.
Sente- se! Estou fazendo um café, é difícil ter companhia com essa idade, ninguém quer conversar com um velho resmungão, açúcar ou adoçante?
Trabalhei bastante nesta vida, nunca pensei em possuir tanta responsabilidade tão jovem como era, fico orgulhoso de ter desempenhado meu papel com honra.
Não acredito em uma segunda chance, não faz sentido nenhum essa besteira de reencarnação, parece conversa de covarde que não tem coragem de viver agora e aguarda a segunda oportunidade de fazer valer a pena.
Meus filhos não aparecem aqui por muito tempo, talvez passaram no hospital, mas eu estava dormindo sempre, o que adianta a visita afinal?
Eu tinha fé que minha ex- esposa chegasse antes de você, quando me separei, amava ela como nunca havia amado outra mulher, mas eu era jovem e tolo, abrir mão de seu orgulho é coisa de gente madura. Sinto saudades dela... Nunca a esqueci...
Sabe de uma coisa? Chega de café, que tal um whisky com gelo?
Faz tempo que não bebo nada, mas não tenho muito tempo, um pouco de prazer no fim é digno.
Gostaria de compreender essa emoção de perder alguém, essa santificação pós-morte é interessante, será uma das poucas questões que levarei para meu túmulo.
Já pensei em escrever algumas palavras no papel para minha família, algo agradecendo por tudo, mas isso é bobagem, não é bom deixar marcas como essa antes de partir, verdadeiramente não é muito meu estilo, vou deixar apenas esse copo com gelo e a garrafa de whisky na mesa, o café está na garrafa térmica.
Estou um pouco cansado, está na hora de partir certo? Vou para a cama, não quero sustos ao me encontrar, você me permite essa última vaidade?
Obrigado!

Bom... Agora podemos partir...

domingo, 8 de dezembro de 2013

Assassina de Pripyat



Maisha Korolenko, 27 anos, Assassina Profissional, conhecida por trazer a cabeça de seus inimigos em um baú aos seus contratantes, suas negociações são feitas na cidade fantasma de Pripyat, a mesma onde ocorreu o acidente com as usinas de Chernobyl e evacuada até hoje por concentrar radioatividade desde 1986.

Maisha tem um passado escuro e desconhecido, o que foi um grande trunfo para sua ascensão como assassina, sem um passado, não existiria armas para detê- la. Aos 22 anos Maisha já era temida por inimigos públicos, não recusava trabalhos, aquele que um dia poderia contratar sua sofisticada atividade, poderia ser seu alvo amanhã.

A misteriosa assassina tinha uma grande singularidade, ao se encontrar com seus clientes, marcava o local em uma escola da antiga cidade de Pripyat para as negociações, alguns relatos anônimos afirmam que familiares eram funcionários da usina e morreram no acidente com as consequências da radiação e Maisha foi à única sobrevivente da geração, outros dizem que seu pai era um espião americano e por ser casado com sua mãe Ucraniana tinha passe livre pela União Soviética e roubou informações importantes do estado até ser capturado pela KGB.

Maisha construiu uma reputação inabalável e protegida por suas lendas, fato é que ninguém podia parar essa mulher e seus feitos, até um dia de rigoroso inverno soviético...

Maisha se dirigiu até Pripyat onde se encontraria com um chefe de estado soviético no qual a contrataria para mais um trabalho sujo da elite do poder, a tarde em uma cidade fantasma não mudava a sua estética morta entre plantas crescendo em fendas de concreto e metal enferrujado, o silêncio do local quebrado pelos ventos que anunciavam o inverno eram horripilantes, mas Maisha não temia o desconhecido.



O homem não compareceu ao local na hora marcada, Maisha logo notou que seria uma emboscada, analisou a situação e chegou a conclusão de que não atacariam no momento, era simples, estavam colhendo informação como confirmação do contato e imagens fotográficas para o dossiê, ela muito sensata, se dirigiu para fora do local em alerta, porém sem realçar qualquer movimento brusco que pudesse entregar suas conclusões e saiu da cidade.


Maisha tinha outras maneiras de se comunicar com os seus contratantes, principalmente quando as informações eram de alto grau de confidencialidade e por isso deveriam ser passadas em códigos por transmissões fantasmas, o sistema era usado para que vários assassinos mercenários recebessem a informação, Esse foi o código:






A mensagem decretou uma busca sanguinária pela cabeça da Assassina Maisha Korolenko, ela não conteve o sorriso no rosto, pela primeira vez era um inimigo aos interesses de sua própria nação e deveria agir para sobreviver ao invés de matar seu alvo.

No dia seguinte, o sol não havia tocado sua luz sobre o solo e Maisha estava na estrada e pronta para a sua missão, não era seu estilo se manter escondida, ela dirigia pela rodovia principal em direção a Moscou como qualquer usuário, mas logo notou que estava sendo seguida por dois carros pretos. Maisha manteve a velocidade do carro, um dos carros tomou a frente do veículo da assassina e ela freou bruscamente desviando a direção do veículo para o canteiro despencando de uma pequena depressão do solo e batendo o carro em uma árvore, os mercenários logo foram em sua direção para terminar o serviço, ao abrir a porta do carro dela, não encontraram ninguém, eles perceberam que nesta situação eles seriam os alvos, tarde demais, Maisha estava posicionada em um pequeno monte e pronta, disparou rapidamente dois tiros sobre os amadores que caíram ao solo. Maisha aguardou alguns minutos no local e logo depois foi em direção ao veículo de um dos falecidos assassinos e retomando sua viagem até Moscou


Em poucas horas, Maisha estava na cidade de Moscou, um lugar movimentado era impróprio para uma abordagem tão direta quanto a que houve na rodovia, nenhum assassino seria tão imprudente a tal ponto, então ela resolve parar o carro em um Café e descer para comprar algo. No Café ela troca poucas palavras com um senhor e sai pela porta dos fundos do estabelecimento em um carro vermelho sem que ninguém note.


Maisha chega ao seu destino, o congresso de Moscou, ela permanece dentro do carro de vidros escurecidos, aguarda algo, ao longe escuta uma grande explosão, o carro preto dos assassinos que ela matou explodiu, Maisha havia plantado uma bomba e orientado ao senhor no café a levar o carro próximo ao parlamento, o motivo do feito era chamar a atenção da polícia da cidade e acuar os sanguinários assassinos para que ela pudesse entrar no prédio do governo.


No parlamento, todos os funcionários e seguranças permaneceram alertas para um possível ataque terrorista e se concentravam nas entradas do prédio, Maisha sai do carro e segue para um pequeno supermercado próximo ao prédio das autoridades nacionais com uma pasta, seu objetivo era entrar no parlamento e ficar frente a frente com os mandantes de sua execução.

O caos com a explosão do carro estava espalhada pelo centro de Moscou, a maior parte da polícia da capital estava trabalhando para contabilizar as perdas e seus respectivos culpados pelo incidente, Maisha, já dentro do mercado, se encontra com um amigo no qual troca algumas palavras e entrega a maleta, o amigo esboça um leve sorriso junto a Maisha e leva a maleta para dentro de um pequeno escritório.


O relógio marcava 12h00min na cidade de Moscou quando em frente a porta principal do parlamento inicia uma pequena concentração de pessoas que em um canto só, exigiam melhores salários, logo a multidão chamou a atenção dos curiosos e partidos políticos de oposição pouco tempo depois se reuniram formando uma grande manifestação na porta do prédio. Maisha ensaiava uma pessoa fazendo compra, larga a cestinha com os produtos e se dirige para fora do estabelecimento sumindo na multidão.

Um pequeno palanque foi montado na rua e discursos progressistas entoaram a voz do locutor, o povo em chamas repetia as besteiras com fervor e logo a polícia chega para controlar a situação e acalmar os ânimos dos civis.

Os líderes de estado estavam apreensivos quanto a um possível quebra na rua e que poderia se estender até o parlamento e logo exigiram a evacuação dos líderes por motivo de segurança até que tudo voltasse  ao normal e assim foi feito, não demorou muito e helicópteros do governo chegaram ao local e retiraram os líderes e dentre eles estava aquele a quem Maisha anseia encontrar.


Ivan Stravinsky era o parlamentar que através de um rastreamento feito por Maisha, seria o mandante da execução dela, ele entrou na aeronave com pressa, mal poderia esperar para partir e logo decolou. Ivan perguntou ao piloto qual seria o destino e sem hesitar o piloto responde: vamos sobrevoar a cidade por alguns minutos, a aeronave está aguardando mais um passageiro para partir, Ivan questionou qual autoridade nacional seria, mas nada foi respondido.


Depois de uma hora sobrevoando a cidade, Ivan nota que Moscou estava para traz e florestas foram tomando a paisagem adiante e questiona o piloto sobre o destino novamente, o piloto responde que iria pousar em um campo aberto logo e assim o fez, com a aeronave em solo e desligada, o comandante solicita que Ivan desça, e ele ainda questionado sobre a manobra, desce acompanhado do piloto que ao tirar o capacete, revela sua verdadeira identidade, era Maisha Korolenko, a temida assassina que ele ordenou o assassinato. Ivan travou os olhos na mulher sem passado e perplexo ficou ao saber que suas pernas não o obedeciam mais, diante da cena, Maisha abre o diálogo.

- Meu querido Ivan! Não precisa dizer nada, eu sei que está surpreso ao me ver, achou mesmo que eu não saberia que você seria o mandante de meu assassinato?

- Ivan... Como você é tolo, eu não iria correr pelo mundo me escondendo, existem bons assassinos por ai, nunca desejei uma vida normal, filhos, casamento, essas besteiras que você tem, eu escolhi ser uma assassina, não tenho passado, família, quem iria se importar com isso?

- Você Ivan, tem a perder muito mais que eu, certo? Sim, eu sei que você questiona tudo que aconteceu hoje, mas eu posso te explicar.

Maisha fala sobre como planejou a captura de Ivan:

- O carro que explodiu foi só um pretexto de segurança para que a multidão acuasse os assassinos que me vigiavam procurando a oportunidade de concluir o trabalhado e chamasse a atenção da polícia da cidade para aquele local, já a manifestação foi armada sob meu comando para alguém que me devia um pequeno favor, foi premeditado que a oposição ao governo utilizaria a oportunidade para somar junto aos cretinos barulhentos na porta do parlamento e vocês como sempre sairiam correndo da fúria, e como faria isso? era impossível sair andando ou em um veículo, logo pelo ar seria a melhor opção e prevendo sua atitude, me misturei na multidão e despistei aqueles que me seguiam, foi onde peguei um veículo e segui até o heliporto, rendi um dos pilotos e comandei a aeronave até o parlamento, o piloto esta amarrado debaixo do banco do helicóptero e agora estamos aqui...

Ivan, certo de que estava nas mãos da astuta assassina, perguntou:

- Qual seria o seu próximo passo senhorita Korolenko ? Matar-me não mudaria a ordem de seu fim, seria uma questão de tempo até alguém lhe encontrar.

Maisha abre um grande sorriso:

- Ivan... Não imaginava quão tolo você seria, minhas expectativas se superam a cada segundo, mas vou lhe contar o que acontecerá. As autoridades já devem estar sentindo a sua falta, você é o mais importante parlamentar do governo.

A noite se aproxima e o governo busca por Ivan pelo espaço aéreo de Moscou até que a aeronave se encontra sobrevoando em direção ao parlamento e logo é escoltado por aeronaves do exército até seu pouso onde o piloto é rendido, mas estava sozinho, ele explica os acontecimentos para as autoridades competentes.

Esse foi o tempo em que Maisha precisava para roubar um carro na rodovia e chegar até Pripyat onde abandonou Ivan nu, próximo a usina prevendo que a contaminação radioativa e um tiro terminasse o trabalho e seu corpo demorasse em ser encontrado. Maisha seguiu para Moscou novamente para concluir o seu plano.

As autoridades rastrearam os dados da assassina com base nos arquivos e a descrição do piloto que Maisha rendeu e estavam cientes aparentemente dos motivos de todo aquele dia incomum na cidade, só não esperavam que um novo episódio fosse acontecer durante a noite.

A imprensa foi chamada em peso e o espetáculo iria começar...


Maisha chega ao aglomerado de repórteres, faz um refém e inicia seu discurso com um tiro para o céu, entre o susto, os sedentos por notícias transmitem ao vivo para toda a nação a imagem da moça que aponta a arma para a cabeça de um jovem.

Maisha diz:


- Não pretendo matar esse jovem, mas não faça movimentos bruscos até que eu termine o que tenho a dizer.

- Meu nome é Maisha Korolenko, tenho 27 anos, sou uma assassina profissional, a muito tempo eu trabalho para os bastidores de nossa sociedade, máfia russa e governo como uma apaziguadora de ameaças dos dois lados.

- Nasci filha de uma pai espião americano e uma camponesa ucraniana, meus avós foram vítimas do acidente em Pripyat, meu pai foi capturado e morto pela KGB, minha mãe morreu no parto por complicações, cresci sozinha em um orfanato onde fui abusada por funcionários e passei fome até ser livre, entrei para esse mundo afim de descobrir o que mais se passava longe dos olhos de quem vivia no conforto de sua casa e descobri o quão podre era essa terra. Tornei- me uma lenda no submundo dos assassinos por acaso do destino, a necessidade de sobreviver é um talento nato, foi o que precisava para chegar até aqueles que não sujavam suas mãos de sangue, nunca matei ninguém até hoje, o destino das vítimas eram decididos em uma assinatura muito antes de um contrato comigo ou qualquer outro assassino profissional. Pripyat foi o cenário que escolhi para tantas transações, um abstrato ao meu modo de vida, cidade condenada assim como minha vida, mas sempre tive em mente que esse dia chegaria, o dia em que a verdade, mesmo que contestada e apagada na lembrança daqui a alguns anos, fosse revelada para que o mundo saiba o que acontece por baixo do tapete da elite. Esta noite, não tenho números para contar quantas armas estão apontadas para mim, e não estou falando só do exército e polícia, estão presentes meus companheiros de profissão, todos assistem esse humilde discurso de uma órfã. Na noite passada foi assinada a minha sentença amigos, da minha arma partiu balas onde matei direitistas e esquerdistas, chefes da máfia e futuros opositores políticos, mas hoje a minha arma disparou pela ultima vez, Ivan Stravinsky repousa no inferno atormentado pelos pecados que cometeu, ele foi o mandante do meu assassinato. Você pode estar perguntando se esse era o meu motivo para mata- ló, eu te respondo não, o motivo pelo qual o intocável Ivan Stravinsky foi morto é simples, Ivan era um dos líderes da nação e assistia seu discurso na TV do orfanato, seus discursos eram impactantes e suas ideias futuristas, ele demonstrava tanto amor ao seu povo e eu olhava para ele com a esperança de que algo mudasse em minha vida, mas os dias se passaram e lá estava o orfanato e o inferno que era viver abandonada naquele lugar sujo e sórdido, quando cresci, lá estava Ivan, matando opositores, discutindo como afastar os olhares do povo das verbas públicas, ele foi à única esperança de uma menina que cresceu no inferno, conhecer o céu, mas na verdade... Ele era o demônio o tempo todo e hoje foi o dia da condenação, na pasta que está no carro azul parado ao lado daquela van preta está um dossiê que preparei durante muitos anos.

O silêncio era profundo para uma cidade movimentada como Moscou, Maisha finalizou inesperadamente o seu discurso:

- Amigos assassinos, todos buscam sua honra como profissionais e hoje dividirei a minha com todos vocês, peço a cada um presente nesse local que aponte a arma em minha direção e atire com apenas uma bala, o ciclo se fecha aqui, mas outros continuaram adiante, onde existir luz, haverá a sobra de um assassino na escuridão, fim!

Maisha larga o refém e os policiais correm para prende- La até que disparos são escutados...

Os assassinos no local alvejaram com um tiro cada totalizando seis capsulas disparada. Maisha caiu ao chão já sem vida e o mais impactante foi o leve sorriso de menina estampado em sua face já sem vida, ela sabia que não iria mudar muita coisa daqui para frente, porém trouxe a luz da verdade e a possibilidade de mudar a vida das meninas daquele orfanato.


Desde então, Maisha ficou conhecida com a assassina de Pripyat











Funeral






Em meio a tarde, lá estava eu fazendo minhas últimas preces para aquele pobre jovem que havia partido em um acidente de carro.

Não conhecia muito a família do rapaz, na verdade não reconheci quem seria os familiares e procurei não cometer uma gafe indagando sobre o assunto.

Minha mãe estava presente no velório, chorava beirando ao escândalo, não tinha mais contato com ela, brigamos na justiça por posses após o falecimento de meu pai, não me comovi com o teatro.

A noite era questão de tempo, logo chegaram mais conhecidos, gente mascarada amiga de minha família, não me recordo do dia em que fizeram as pazes com minha mãe, na verdade é bem estranho que tantos conhecidos estejam presentes, porém não me admira o rancor imperar sobre seus corações a ponto do desrespeito em não me cumprimentar.

O pequeno funeral de um rapaz desconhecido se tornou um grande evento, tentei ligar para minha esposa, todavia não consegui sinal no celular para tal, o que me recorda de enviar aquela carta mal educada ao presidente da empresa de telecomunicações.

Minhas escolhas teve como consequência o ódio de todos, eles nunca compreenderam que foi apenas negócios, propor um acordo não foi uma maneira suja de cobrar o que era meu de direito, papai estava morto e eu vivo, talvez questionar esse fato durante o velório tenha um tom indelicado, mas tenho uma vida ocupada, ganho dinheiro com o tempo que tenho, apenas notei uma oportunidade no momento, business.

O celular continua sem vida, as pessoas eram todas familiares, não gosto de protagonizar como aqueles que olham o pobre defunto sem saber de quem se trata, mas me senti curioso sobre quem seria esse homem que possivelmente estava tão próximo a ponto de grande parte de a minha família estar presentes e unidos. Logo fui em direção, pouco mais de 20 passos, quando concluí os primeiros 10 passos, surge minha esposa aos prantos, ela arrancou na frente e debruçou sobre o caixão quase o derrubando do suporte, fui correndo ao seu encontro e a grande sensação, o defunto do momento estava sobre a direção dos meus olhos e então a grande surpresa... Era minha face, meu corpo repousava em uma nobre caixa de madeira envernizada, meus olhos continuaram paralisados com a cena, todos aqueles choravam por mim, não fui cumprimentado pois não estava lá presente em carne, aquela batida de carro foi grave...

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Pesadelo


Seus olhos já não fecham mais.
A cede de sangue envolve seus sentidos.
O gosto pela vingança é doce durante as manhãs.
Seu auto controle não permite que o passo da ansiedade lhe faça errar o tiro.

É uma noite quente de verão no seu coração.
O pesadelo volta a te atormentar durante a madrugada.
Vito está com a arma apontada sobre sua cabeça.
Ele abraça sua mulher enquanto lhe recita seu monólogo de ódio contra a tua vida.

Vito sempre desejou o que era seu.
Você percebeu desde o dia em que ele, em tom de brincadeira, desonrou sua esposa.
Pouco faltaria para que a primeira bala pudesse ser disparada.
O pesadelo se desfez ao acordar.

Você vigia Vito, ele demonstra muito interesse em você.
Suas decisões passam sobre as mãos dele, logo chegará a hora em que você cairá.
Você orienta  Vito e questiona sua lealdade com olhares sérios e profundos.
Você sabe que o mundo criminoso  beira entre o leal e o traidor.

Hoje você decide que Vito viverá esta noite.
Um passo ousado para uma ameaça em potencial.
O pesadelo retorna, agora com começo e meio.
Vito retorna com um discurso diferente, acalorado pelos olhares do dia que se passou.

Seria sua auto confiança em baixa o motivo do pesadelo?
Não... os sentido de um Capomandamento não o condena em nenhum momento.
Você resolve levantar- se da cama e beber algo.
Ao longe escuta um solo de uma canção familiar.

Vito surge pela manhã acompanhado de um habitual sorriso de pazzo.
Você decide que Vito não chegaria ao anoitecer.
Todos da família tinha bons motivos para mata- lo.
Vito não era popular pois não passava confiança em suas palavras e era seu braço direito, seguido de um pequeno histórico inexplicado sobre alguns Caporegimes que desapareceram segundo ele. 

A tarde se aproximava junto à sua hesitação.
Era apenas um sonho, apesar de toda a tensão que foi desenrolada.
Vito resolve ficar mais tempo no escritório.
Você desiste da ideia de vê- lo morrer e vai para casa.

É uma madruga fúnebre e gelada na cidade.
Ao longe os pássaros noturnos entoaram a canção do Adeus.
O maldito pesadelo retorna ainda mais profundo.
Vito acaricia e arremessa sua esposa na cama, atira contra ela e depois despara mais duas balas em sua direção.

Você não hesita mais e acorda decidido a colocar fim ao terror da cena em seu mundo real.
Ao abrir os olhos, sua esposa não se encontra na cama.
Você desce as escadas e encontra todas as luzes apagadas.
Segue até a cozinha, percebe que Vito está sentado em uma cadeira á meia luz e sobre a mesa à sua frente está sua famosa Colt M1911A1.

No aparelho de som escuta novamente aquela canção, reconhece que se tratava de "Sinatra- It Was a Very Good Year".

Era uma emboscada, ao tentar correr, você encontra sua mulher, ela apontava sua Smith and Wesson Model 27 Magnum em sua direção e...








Navegando



Existem dias em que absolutamente nada pode descansar meu coração.
Lembranças de uma infância difícil, simples e honesta em um mundo beirando a consumada estupidez socialista.
Como algo tão distante de mim hoje pode estar na minha corrente sanguínea?
Situações perturbadoras perambulando como sombras nas ruas geladas da cidade, veneno do medo consumindo cada ponto vital, homem revirando o lixo sobre o silêncio da noite em uma esquina sem iluminação.
Qual é o prazer da mente ao revirar escombros onde não existe vida?
Traumas tatuados na alma, feridas abertas seguindo as décadas como suas companheiras, contra seu gosto, a favor de sua destruição.
Personagem impuro de um final feliz, trágica existência, acorrentado em dogmas, navegando em mares desconhecidos, covarde para as massas e corajoso aos olhos de Deus.

Existe um pódio do no final da corrida? Um prêmio maior, algo que recompense o caos que carrego abordo?

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Noite.




Hoje, necessito de sua companhia minha amada...
Desenhar meus sonhos através do seu véu.
Esconder minha dor na solidão de uma estrela distante de mim.

Hoje, preciso caminhar sobre a sua tutela.
Parar seu tempo para viver mais do meu tempo com você.
Congelar com teu vento as lágrimas do meu luto.

Hoje, almejo ser parte de sua sinfonia.
Navegar na superfície rochosa do teu sol.
Pirata no teu mar negro.

Hoje, anseio por seus segredos.
Permitir que teus ventos leve minhas palavras.
Olhar com os teus olhos.
Descobrir os teus sonhos...





terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Adeus!




Com os olhos carregados de emoção, recolho meus pertences.
Evito fixar os olhos a quem jurei meu amor.
Na mochila velha pouco coube minhas lembranças, talvez uma escova de dentes e meus pecados sejam mais que suficiente para ocupa- La.
São 16:00 horas, o silêncio na casa consumia ainda mais do que as palavras lançadas na noite anterior.
Ela se trancou no quarto, com esforço, podia ouvir suas lamentações abafadas pela porta de madeira maciça.
Era chegada a hora de partir, o coração apertado de culpa, as pernas ensaiavam a hesitação, e a mente procurando focar o objetivo se perdia ao grito das crianças que brincavam na rua.
Só Deus sabe como consegui chegar ao portão, olhei para trás ainda emocionado, mas não havia ninguém a se despedir, o coração gritava por socorro ao abrir o portão, procurei fazer barulho em busca de um sinal, porém nada além das cortinas ao vento foram testemunhas do fato.
Ao trancar o portão, fui abordado pela vizinha, curiosa sobre a bagagem, indagou sobre meu destino, olhando para mim dos pés a cabeça, um tanto quanto indiscreto tal questionamento, todavia respondi com a voz tremula, não pude olhar nos olhos dela, talvez por temer o veredito do julgamento, já me condenava antecipadamente.
Iniciei meus passos em direção ao ultimo ônibus da pequena cidade, o motorista carregava o porta malas do veículo, tentei me focar na tarefa de entregar- lhe a bagagem e subir para o ônibus. Abordo e pronto para partir, não prestei atenção nas pessoas ao meu redor, conversar nesse momento seria algo insuportável e fora de cogitação.
O veículo dá inicio a sua movimentação, minha dor se sobrepunha a qualquer loucura de última hora, olhei pela janela para me distrair, foi impossível segurar as lágrimas que se acumulavam nos olhos, o ônibus estava vazio, não haveria mal algum deixa- las escapar.
Aos poucos ficava distante do local de onde parti, a ideia de tudo acabar que antes era apenas um pesadelo no inverno se tornou minha realidade em uma tarde de verão.
Um longo filme se desenrolava pelos pensamentos, o sol que ardia pela tarde já não era tão quente e dava lugar a um vento tropical que se entrelaçava pelos cabelos penteados, olhei para os poucos passageiros e imaginei o porquê eles estavam fugindo.
Depois de duas horas de viagem, o motorista anuncia a primeira parada, não tinha me informado sobre o itinerário da linha, porém resolvi sair para fumar quando ele estacionasse. A mente ainda não havia dado sossego, ao sair os olhos aparentavam estar inchados pelo reflexo da pintura do veículo, era tarde para buscar os óculos na bagagem. Olhava para os homens que festejavam uniformizados a vitória do seu time regional, nada incomum para as cidades pequenas que atravessaria durante a viagem. Acendi um cigarro e ao puxar o primeiro trago notei um semblante comum entre o grupo de torcedores, os olhos em segundos ficaram atentos ao alvo, o coração queimava com brasa no peito, o vento gelado e as luzes da cidade previa a noite que chegava aos poucos, sim... Era uma linda moça, era ela? Por poucos instantes a resposta evidente foi dada, não, contudo foi espantosa minha reação ao Vê- La, como explicaria a mim mesmo tal sentimento em minha condição? Se ainda a amava, por que a abandonei? Um turbilhão de emoções tomou conta do meu corpo naquele momento e repleto de uma inexplicável adrenalina desejei encontrar uma maneira de voltar para minha amada.
O ônibus estava se preparando para partir, possuído por um instinto, abordei o motorista e lhe pedi minha bagagem, ele, estranhando minha súbita abordagem, não questionou e logo se dirigiu ao porta malas.
O ônibus partiu e lá estava eu em uma cidade estranha e procurando uma carona para voltar, me dirigi aos torcedores em busca de alguma esperança de voltar aquela noite para casa, mas não fui feliz no resultado. Continuei por perto, em uma cidade pequena não encontraria nada melhor do que aquele local para tal façanha desesperada. Era tarde, pouco a pouco as pessoas seguiam para suas moradias, preparava-me para passar aquela noite no local e acostumando com a ideia quando surgi o dono do bar, um homem que aparentava seus 55 anos, disse que havia alguém que poderia me levar até a cidade de onde parti, logo me animei e fui em direção ao senhor ao qual o velho do bar me apontava, era um rapaz jovem, com roupa social, tomava água acompanhado de um bíblia bastante desgastada, sem rodeios fui me apresentado eufórico, ele ciente do meu destino logo se prontificou para a missão e nos dirigimos ao seu veículo. Prontos para partir, faltaram palavras para agradece- ló. Iniciada a minha nova jornada, expliquei ao jovem a minha situação, ele, atento a estrada, iniciou seu sermão sobre suas condições religiosas e o que Deus havia feito na vida dele, não prestei bem a atenção, mal podia acreditar que estava voltando, meus pensamentos estavam direcionados para tudo o que aconteceu, seria impossível me concentrar no diálogo.
Estava perto da cidade, o rapaz desistiu há uma hora de qualquer abordagem religiosa sobre minha situação, ao longe era possível ver cada vez mais perto as luzes da cidade, não me aguentava parado no banco do carro, o motorista jovem indagou sobre onde morava, fez questão de me levar até a porta, não demorei muito e despejei minha gratidão eterna ao rapaz. Estava próximo de casa, guiei o motorista ao endereço, logo cheguei à frente do portão, as luzes estavam apagadas, aparentava ser tarde. O jovem motorista seguiu seu trajeto, fui direto ao portão, às chaves denunciavam minha euforia, logo corri para a porta e adentrei na velha casa, acendi a luzes, me dirigi ao quarto, mas ela não estava lá, procurei pelos cômodos da casa, porém não a encontrei, no relógio marcavam 22 horas, fui novamente ao quarto para instalar a bagagem no guarda roupas, foi quando a surpresa que tive ao ver que ele estava vazio me jogou em um buraco profundo de minha alma, não acreditei no que os meus olhos narravam em forma de imagem, procurei novas evidências para constatar o que o meu coração não podia aceitar, no banheiro não havia mais sua escova de dentes, seu violão não estava mais na sala, a louça estava lavada, panelas vazias, a comida do armário havia desaparecido.
Estava certo sobre o que havia acontecido, mas ainda sim não aceitei e fui em direção à rua, logo que cheguei ao lado de fora do portão, notei que a vizinha conversava com outra senhora, não hesitei em aborda- La questionando sobre os fatos recentes, se ela tinha alguma informação, prontamente ela me respondeu, minha amada doou os alimentos para um senhor logo depois que parti, porém não a viu mais depois desse fato. Atordoado, não tive a delicadeza de agradecer pela informação, saí apressado, com passos longos, fui ao centro da pequena cidade, conversei com conhecidos, fui aos pontos de grande movimento, hospitais, delegacia e absolutamente ninguém soube me dizer o que aconteceu. Voltei para casa na esperança de que minha amada retornasse, entretanto a casa estava como eu deixei ao sair, era tarde, não poderia fazer absolutamente nada mais, o relógio marcava 23:00 horas, resolvi esperar por ela em casa, tudo passava pela minha cabeça, insuportável foi a angustia que senti aquela noite e distante de qualquer imaginação foi minha dor. Durante o dia voltei a buscar informações sobre ela, sem êxito, comecei a aceitar a ideia de que havia partido, embora a fé de olhar ela chegando ao portão era inimaginável, o tempo passou...
Esperei por ela... Dias, semanas, meses, anos e ela nunca mais retornou...





Império de Outono



Se está sozinho, o tempo mata.
Sente falta de tudo que deixou para traz.
E seus demônios vem a mente...
Inconsequente, se agarra em um falso amor.

E se a fé já não existe mais ?
As decisões mortais tentam prevalecer.
É mais um dia de outono.
Fecha os olhos e tenta encontrar a paz.

O seu Império de Outono irá se erguer,
antes que o sol possa nascer.
Nas tuas manhãs cinzentas.

Do seu destino recordava.
Não lembra como chegou ali.
E as palavras abortadas,
seguem jogadas dentro de você, mas é só mais um dia de outono.