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segunda-feira, 31 de março de 2014

O homem que não sabe amar




Em algum momento teria que parar. Minhas pernas já se encontravam exaustas de tanto que andei, mas meu coração insistia em me torturar no acostamento da estrada.

O sol deitava sobre as montanhas e o vento gelado de início de noite tocava o corpo frágil e desgastado de um esforço físico para chegar sabe Deus onde.

Caminhava refletindo sobre tudo enquanto os carros cortavam o vento a poucos metros de onde seguia caminhando. Lembrei- me de suas queixas, o quanto você reclamava sobre onde morava ou como a vida era dura ao meu lado, me cobrei por isso, embora sempre lhe garantido um teto todas as noites.

A escuridão da estrada parecia brotar entre as rachaduras do asfalto. Lembrei- me de como você reclamava que tudo era longe, como o transporte público era ruim ou desumano enquanto eu lhe fazia lembrar o porquê de estarmos juntos. Muitas vezes não tinha um centavo no bolso, não tinha a possibilidade de comprar um carro, um transporte que lhe oferecesse conforto, mas sempre segurava sua mão para que de alguma maneira nada fosse longe o suficiente e que sempre pudéssemos chegar juntos.

Logo a solidão abraçou- me na estrada escura onde somente o som de minha respiração e dos animais do serrado quebravam a imensidão do silencio da noite. Recordo- me de acordar sempre cedo, sair para o trabalho, cobrando- me por resultados, uma vida digna, simplesmente ser o orgulho do seu coração ou ao menos o motivo do brilho dos seus olhos.

Parece tarde e a única luz na estrada pertence à lua, porém o medo do desconhecido se apossou de meu coração neste momento e estou muito distante para voltar atrás. Recordo- me de toda a pressão que existia sobre minhas costas, toda a fofoca cancerígena, o completo caos estabelecido e que sempre era guardado em meu coração para que as nossas vidas fosse apena nós, mas você insistia em reproduzir tudo com riqueza de detalhes e por consequência minha alma reproduzia a dor em meus olhos.

O meu corpo desistiu de sentir dor neste momento, não possuo a capacidade de decidir o que é mais íngreme, meus sentimentos ou a estrada, porém vejo as luzes de uma cidade e as forças se renovam. Lembro- me que sou culpado aos olhos inflamados de julgo após o fim, a condenação pelos pecados que cometi já possuía seu veredito e nada poderia ser feito, mesmo a própria defesa que nunca foi cogitada pelo excelentíssimo juiz.
Consegui chegar à cidade, hoje é uma noite de festa, tem muita gente sorrindo na rua. Não recordo- me da ultima vez em que sorri, engoli as novidades como um homem que não tem paladar, mas sobrevivi, com medo fiquei, calei os nossos sonhos enquanto você partia. Preço alto para quem um dia desejou ser feliz.

Aluguei um quarto de hotel com paredes cinza, talvez a cor das paredes fosse uma reprodução dos sentimentos que se estabeleceram ao meu redor, porém estou feliz, pois assim como andei durante tanto tempo por aquela estrada, jamais parei no caminho e desisti de caminhar, fui até o fim e com o amor não será diferente,.

O amor é como uma criança aprendendo a andar, ela vai cair muitas vezes, mas a cada tentativa suas pernas ficam mais fortes e seu equilíbrio mais seguro até que um dia ela sai caminhando pelo mundo afora.


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