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terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Adeus!




Com os olhos carregados de emoção, recolho meus pertences.
Evito fixar os olhos a quem jurei meu amor.
Na mochila velha pouco coube minhas lembranças, talvez uma escova de dentes e meus pecados sejam mais que suficiente para ocupa- La.
São 16:00 horas, o silêncio na casa consumia ainda mais do que as palavras lançadas na noite anterior.
Ela se trancou no quarto, com esforço, podia ouvir suas lamentações abafadas pela porta de madeira maciça.
Era chegada a hora de partir, o coração apertado de culpa, as pernas ensaiavam a hesitação, e a mente procurando focar o objetivo se perdia ao grito das crianças que brincavam na rua.
Só Deus sabe como consegui chegar ao portão, olhei para trás ainda emocionado, mas não havia ninguém a se despedir, o coração gritava por socorro ao abrir o portão, procurei fazer barulho em busca de um sinal, porém nada além das cortinas ao vento foram testemunhas do fato.
Ao trancar o portão, fui abordado pela vizinha, curiosa sobre a bagagem, indagou sobre meu destino, olhando para mim dos pés a cabeça, um tanto quanto indiscreto tal questionamento, todavia respondi com a voz tremula, não pude olhar nos olhos dela, talvez por temer o veredito do julgamento, já me condenava antecipadamente.
Iniciei meus passos em direção ao ultimo ônibus da pequena cidade, o motorista carregava o porta malas do veículo, tentei me focar na tarefa de entregar- lhe a bagagem e subir para o ônibus. Abordo e pronto para partir, não prestei atenção nas pessoas ao meu redor, conversar nesse momento seria algo insuportável e fora de cogitação.
O veículo dá inicio a sua movimentação, minha dor se sobrepunha a qualquer loucura de última hora, olhei pela janela para me distrair, foi impossível segurar as lágrimas que se acumulavam nos olhos, o ônibus estava vazio, não haveria mal algum deixa- las escapar.
Aos poucos ficava distante do local de onde parti, a ideia de tudo acabar que antes era apenas um pesadelo no inverno se tornou minha realidade em uma tarde de verão.
Um longo filme se desenrolava pelos pensamentos, o sol que ardia pela tarde já não era tão quente e dava lugar a um vento tropical que se entrelaçava pelos cabelos penteados, olhei para os poucos passageiros e imaginei o porquê eles estavam fugindo.
Depois de duas horas de viagem, o motorista anuncia a primeira parada, não tinha me informado sobre o itinerário da linha, porém resolvi sair para fumar quando ele estacionasse. A mente ainda não havia dado sossego, ao sair os olhos aparentavam estar inchados pelo reflexo da pintura do veículo, era tarde para buscar os óculos na bagagem. Olhava para os homens que festejavam uniformizados a vitória do seu time regional, nada incomum para as cidades pequenas que atravessaria durante a viagem. Acendi um cigarro e ao puxar o primeiro trago notei um semblante comum entre o grupo de torcedores, os olhos em segundos ficaram atentos ao alvo, o coração queimava com brasa no peito, o vento gelado e as luzes da cidade previa a noite que chegava aos poucos, sim... Era uma linda moça, era ela? Por poucos instantes a resposta evidente foi dada, não, contudo foi espantosa minha reação ao Vê- La, como explicaria a mim mesmo tal sentimento em minha condição? Se ainda a amava, por que a abandonei? Um turbilhão de emoções tomou conta do meu corpo naquele momento e repleto de uma inexplicável adrenalina desejei encontrar uma maneira de voltar para minha amada.
O ônibus estava se preparando para partir, possuído por um instinto, abordei o motorista e lhe pedi minha bagagem, ele, estranhando minha súbita abordagem, não questionou e logo se dirigiu ao porta malas.
O ônibus partiu e lá estava eu em uma cidade estranha e procurando uma carona para voltar, me dirigi aos torcedores em busca de alguma esperança de voltar aquela noite para casa, mas não fui feliz no resultado. Continuei por perto, em uma cidade pequena não encontraria nada melhor do que aquele local para tal façanha desesperada. Era tarde, pouco a pouco as pessoas seguiam para suas moradias, preparava-me para passar aquela noite no local e acostumando com a ideia quando surgi o dono do bar, um homem que aparentava seus 55 anos, disse que havia alguém que poderia me levar até a cidade de onde parti, logo me animei e fui em direção ao senhor ao qual o velho do bar me apontava, era um rapaz jovem, com roupa social, tomava água acompanhado de um bíblia bastante desgastada, sem rodeios fui me apresentado eufórico, ele ciente do meu destino logo se prontificou para a missão e nos dirigimos ao seu veículo. Prontos para partir, faltaram palavras para agradece- ló. Iniciada a minha nova jornada, expliquei ao jovem a minha situação, ele, atento a estrada, iniciou seu sermão sobre suas condições religiosas e o que Deus havia feito na vida dele, não prestei bem a atenção, mal podia acreditar que estava voltando, meus pensamentos estavam direcionados para tudo o que aconteceu, seria impossível me concentrar no diálogo.
Estava perto da cidade, o rapaz desistiu há uma hora de qualquer abordagem religiosa sobre minha situação, ao longe era possível ver cada vez mais perto as luzes da cidade, não me aguentava parado no banco do carro, o motorista jovem indagou sobre onde morava, fez questão de me levar até a porta, não demorei muito e despejei minha gratidão eterna ao rapaz. Estava próximo de casa, guiei o motorista ao endereço, logo cheguei à frente do portão, as luzes estavam apagadas, aparentava ser tarde. O jovem motorista seguiu seu trajeto, fui direto ao portão, às chaves denunciavam minha euforia, logo corri para a porta e adentrei na velha casa, acendi a luzes, me dirigi ao quarto, mas ela não estava lá, procurei pelos cômodos da casa, porém não a encontrei, no relógio marcavam 22 horas, fui novamente ao quarto para instalar a bagagem no guarda roupas, foi quando a surpresa que tive ao ver que ele estava vazio me jogou em um buraco profundo de minha alma, não acreditei no que os meus olhos narravam em forma de imagem, procurei novas evidências para constatar o que o meu coração não podia aceitar, no banheiro não havia mais sua escova de dentes, seu violão não estava mais na sala, a louça estava lavada, panelas vazias, a comida do armário havia desaparecido.
Estava certo sobre o que havia acontecido, mas ainda sim não aceitei e fui em direção à rua, logo que cheguei ao lado de fora do portão, notei que a vizinha conversava com outra senhora, não hesitei em aborda- La questionando sobre os fatos recentes, se ela tinha alguma informação, prontamente ela me respondeu, minha amada doou os alimentos para um senhor logo depois que parti, porém não a viu mais depois desse fato. Atordoado, não tive a delicadeza de agradecer pela informação, saí apressado, com passos longos, fui ao centro da pequena cidade, conversei com conhecidos, fui aos pontos de grande movimento, hospitais, delegacia e absolutamente ninguém soube me dizer o que aconteceu. Voltei para casa na esperança de que minha amada retornasse, entretanto a casa estava como eu deixei ao sair, era tarde, não poderia fazer absolutamente nada mais, o relógio marcava 23:00 horas, resolvi esperar por ela em casa, tudo passava pela minha cabeça, insuportável foi a angustia que senti aquela noite e distante de qualquer imaginação foi minha dor. Durante o dia voltei a buscar informações sobre ela, sem êxito, comecei a aceitar a ideia de que havia partido, embora a fé de olhar ela chegando ao portão era inimaginável, o tempo passou...
Esperei por ela... Dias, semanas, meses, anos e ela nunca mais retornou...





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