O seu perfume surgiu no ar pela manhã, memórias vagas e
fragmentadas pelo tempo se embrenharam entre uma tragada e outra, a luz incomodava
os olhos cansados de uma noite sem sono, um casamento poético distante de um
final feliz.
O tempo vai desvendando o véu de questões mal resolvidas,
apagando alguns trechos rasurados de nossa história, refazendo de maneira
egoísta suas conclusões, retira o amor, saudade, esperança e adiciona a
indiferença.
As notícias insistem em chegar, mesmo que eu não ás procure,
vem torturar as esperanças ainda profundas que não possuo o controle, digna de
cenas em filmes de ação onde o coadjuvante morre com um tiro no peito e
sorrindo finaliza sua participação com uma frase simples de motivação na qual o
mocinho protagonista irá encontrar forças e terminar a trama.
A vida tem cuidado de mim às vezes, falo pouco, não declaro
guerras aos lobos com frequência, escolho com cuidado minhas palavras, estou
longe, mas olhando panoramicamente a situação e movimento as peças quando necessário.
Andei fingindo que havia te esquecido, nossas lembranças
estavam se tornando excelentes comparados aos conselhos não solicitados, essa
ideia tola de supor que alguém necessita de palavras confortantes não passa
pela garganta, vem sempre acompanhada de uma sintonia fina de pena sobre o tom de
voz, são arrogantes e precipitadas na maioria das vezes.
Hoje, aquelas faces que jogaram pedras, seguem o mesmo
caminho que trilhamos, interessante como o mundo dá voltas, recordo- me das
palavras que eram disparadas a queima roupa no passado e hoje escorridas no
ralo do chuveiro da casa dos mesmos homens hipócritas, adotaram a mesma postura
no final.
Esse ano foi extremamente revelador, repleto de traições e
perdas, todavia foi um grande tempo de aprendizado no escuro, logo o sol
nascerá e preencherá por completo, as sombras não continuaram caminhando ao seu
lado e assim seguiremos...
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